quarta-feira, 16 de julho de 2014

Warren Buffet: O investidor tranquilo

Lições do mago dos investimentos


"Seu objetivo como investidor deveria ser simplesmente comprar, a um preço racional, uma participação num negócio que é fácil de entender, e cujos lucros, está praticamente certo, vão ser significativamente mais altos daqui 5, 10 e 20 anos.
Com o tempo vai descobrir que poucas empresas se encaixam neste padrão. Por isso, se descobrir uma, você deve comprar uma quantidade significativa de suas ações. Você também deve resistir à tentação de se desviar de suas diretrizes. Se não estiver disposto a manter uma ação durante 10 anos, evite manté-la por 10 minutos.
Junte uma carteira de empresas cujos lucros marcham para cima ao longo dos anos, e o valor do mercado da carteira marchará junto."

"Investimento inteligente não é complexo, o que tampouco signifique que seja fácil. O que um investidor precisa é de uma capacidade para avaliar corretamente negócios selecionados. Note a palavra "selecionados": não precisa ser um especialista em todas as empresas, nem, necessariamente, em muitas. Você só precisa ter a habilidade para avaliar as empresas que ficam dentro de seu círculo de competência. O tamanho do círculo não é muito importante; o conhecimento de suas extremidades, no entanto, é vital."- Warren Buffet

Invista em negócios, não ações
As duas citações destilam uma boa parte da filosofia de Warren Buffet, um dos investidores mais renomados dos Estados Unidos, e o expoente mais conhecido de investimento em valor (value investment). Como pode ser visto, ele é a antítese da concepção popular de um investidor em bolsa: considera que investe em negócios, não em ações; não se preocupa com o movimento dos preços de suas ações, mas com as vendas, lucros, margens e necessidades de capital de suas empresas; não procura ganhos de capital de curto prazo mas compra participações em poucas empresas para manté-las durante anos, se não décadas; e mora em Omaha, bem longe de Wall Street. Mas com sua técnicas "pão-pão queijo-queijo" conseguiu juntar uma das maiores fortunas do país.

Simplicidade enganadora
As idéias de Buffet são fascinantes mas antes de descrevé-las em mais detalhe, um aviso. Suas estratégias parecem simples mas não são: envolvem uma vida de conhecimento do mundo de negócios. Enquanto Graham, a principal influência sobre o Buffet como investidor, dedicou uma parte de seu trabalho ao pequeno investidor amador, não é o caso do Buffet. A estratégia defensiva do Graham é relativamente fácil de adotar; para implementar as estratégias de Buffet, no entanto, um pequeno investidor deve ter um profundo conhecimento de pelo menos um segmento da economia.

A bolsa não serve como guia
A primeira coisa de Buffet que chama a atenção é sua visão da bolsa de valores. Para ele a bolsa não serve como um guia na escolha de investimentos - é simplesmente um local onde se executam operações de compra e venda. Para ele o valor cotado em bolsa, movido mais a sentimento do que a dados fundamentais, nada tem a ver, necessariamente, com o valor verdadeiro de um negócio. É por isso que um investidor de sucesso é, freqüentemente, aquele que consegue dominar suas emoções durante o processo de investimento.

Nível da bolsa é imaterial
O nível da bolsa não é um empecilho para Buffet. Se encontrar uma empresa interessante a um preço que ele considera bom, ele comprará em qualquer época. Só que, numa época em que a bolsa estiver em baixa, o número de oportunidades será maior.

Impossível escapar aos fundamentos
Associada ao ceticismo de Buffet em relação à bolsa vem sua descrença com respeito às previsões sobre o rumo do mercado - e às estratégias de investimento baseadas nestas previsões. Ele acredita, no entanto, que enquanto a bolsa for capaz de se manter supervalorizada ou subvalorizada durante muito tempo, o mercado não conseguirá fugir, no longo prazo, dos fundamentos dos negócios em que empresas estão engajadas.

Pesquisa de opinião não substitui avaliação
Buffet não tenta prever períodos de alta ou baixa da bolsa. Mas também ele não ignora estes períodos: ele "simplesmente tenta ser medroso quando outros são gulosos e guloso quando outros são medrosos". Mesmo assim ele insiste que uma "pesquisa de opinião" (a bolsa) não é um substituto para uma avaliação cuidadosa dos dados fundamentais de uma firma.

Margem de segurança: as três palavras certas
Mas o que mais distingue a abordagem do Buffet de outros investidores de sua geração é o que ele procura comprar. Para entender isso é necessário voltar às duas personalidades que mais o influenciam: Benjamin Graham e Phillip Fisher. Nas palavras de Buffet: "Sou 15% Fisher e 85% Benjamin Graham". Do Graham ele adotou o conceito de "margem de segurança". "Quarenta e dois anos depois de lê-las ainda acho que essas são os três palavras certas".

Procura-se uma margem enorme
O conceito da margem de segurança, o coração da escola de investimento em valor (value investment) estabelecida por Graham, envolve "uma procura por discrepâncias entre o valor de um negócio e o preço de pedaços pequenos do mesmo negócio no mercado". Não é uma discrepância pequena mas, nas palavras de Buffet, "uma margem enorme". De Fisher aprendeu os benefícios de "encontrar as verdadeiras grandes empresas, e ficar com elas por todas as flutuações do turbilhão que é o mercado".

Quatro empresas: 76% da carteira
Se juntamos o pensamento de Fisher de procurar as "verdadeiras grandes empresas" com a insistência de Graham de uma "margem enorme" entre preço e valor, é fácil entender porque há poucas firmas que preenchem os requisitos. Isso explica uma outra caraterística de Buffet: o pequeno número de seus investimentos. No fim de 1993, por exemplo, ele mantinha as ações de somente 9 empresas em carteira. Quatro destas empresas representaram 76% do valor total do portfólio.

A crítica alocação de capital
Mas Buffet vai mais além em seus investimentos: quando possível ele prefere obter o controle de uma empresa para poder influenciar a condução do negócio. Ele está particularmente interessado na questão crítica de alocação de capital. Se não tiver oportunidade de adquirir controle ele opta pela compra de ações ordinárias na bolsa de valores. Ele considera que esta segunda alternativa tem duas vantagens: na bolsa há mais opções e as oportunidades para encontrar pechinchas são maiores.

Concentre-se diz Keynes
Mas não é necessário diversificar para limitar o risco? Para justificar sua posição Buffet cita as palavras do economista Maynard Keynes: "Estou cada vez mais convencido que o método correto em investimento é investir somas relativamente grandes em negócios que se pensa que entende e em cuja administração se tem fé total. É um erro imaginar que se limita o risco quando se distribui fundos entre empresas que pouco conhece e em cuja administração não se tem nenhum razão particular para ter confiança especial".

Vantagem para um é risco para outro
Aqui estamos forçados a intervir de novo. Parece que esta declaração representa uma crítica direta das recomendações de Graham para que o investidor defensivo diversifique suas aplicações. Não é. A diferença vital é que o investidor defensivo precisa distribuir o risco exatamente porque não tem grande conhecimento dos negócios de que participa, e muito menos razão para ter fé em seus dirigentes.

O negócio ideal
No próximo artigo, vamos descrever o que Buffet procura quando analisa seus investimentos em potencial. Vamos adotar o esquema utilizado no livro The Warren Buffet Way por Robert G Hagstrom Jr que destaca quatro áreas: as caraterísticas do negócio; as caraterísticas da administração; os critérios financeiros; e os critérios de mercado.

A marcha para cima da carteira
Como vimos no artigo anterior, o mega-investidor Warren Buffet investe em negócios não em ações: "junte uma carteira de empresas cujos lucros marcham para cima ao longo dos anos, e o valor de mercado da carteira marchará junto." Assim, ele não se preocupa com o movimento dos preços de suas ações, mas com as vendas, lucros, margens e necessidades de capital de suas empresas. O que é que o Buffet procura quando analisa seus investimentos em potencial?

O Caminho Warren Buffet
Em seu livro The Warren Buffet Way, Robert G Hagstrom Jr agrupa os "princípios" do expoente de investimento em valor (value investment) em quatro categorias:
1. As caraterísticas do negócio;
2. As caraterísticas da administração;
3. Os critérios financeiros;
4. Os critérios de mercado.

Neste artigo, seguindo de perto a exposição excelente do Hagstrom, vamos descrever as duas primeiras destas categorias.

1. Caraterísticas do Negócio

i) O negócio é simples e compreensível?
ii) O negócio tem uma história de operações consistente?
iii) O negócio possui perspectivas favoráveis de longo prazo?

i) Simples e Compreensível

Círculo de competência
Na opinião de Buffet, o sucesso de um investidor é proporcional ao grau de compreensão ele tem do negócio em que está investido. É um ponto de vista que o discrimina de operadores que, entrando e saindo do mercado, perseguem retornos rápidos com base em movimentos de mercado de curto prazo. Mesmo que Buffet tenha investido em uma grande diversidade de negócios, ele procura limitar suas seleções às que considera dentro de seu círculo de competência.

Importante é evitar os grandes erros
Seus críticos afirmam que, com esta abordagem, Buffet se isola das indústrias com o maior potencial. Ele responde que o importante, ao contrário, é "evitar os grandes erros". Se conseguir isso "um investidor precisa acertar pouca coisa" para ter sucesso.

ii) Uma História de Operações Consistentes

Mudanças aumentam o risco
Além de evitar negócios complexos, Buffet passa longe de firmas mudando de direção em conseqüência do fracasso de uma estratégia anterior, ou tentando solucionar sérios problemas operacionais. Ele acredita que os melhores retornos vêm de empresas que têm oferecido os mesmos produtos ou serviços por vários anos seguidos. Grandes mudanças aumentam o risco de erros na condução do negócio.

Reviravolta que não vira nem volta
Este posicionamento contrasta com o atitude de investidores atraídos pelas promessas de reestruturações corporativas. Na experiência de Buffet turnarounds (empresas que passam de quase-falência para lucro) dificilmente se recuperam de fato: não "aprendemos como solucionar problemas operacionais complexos. Aprendemos, sim, evitá-los".

iii) As Perspectivas Favoráveis de Longo Prazo

Franquia possui poder de mercado ...
Aqui Buffet discrimina fundamentalmente entre "franquias" e negócios envolvendo commodities. Na definição dele, uma franquia é um negócio baseado em um produto ou serviço que é: 1) necessário ou desejado; 2) não é facilmente substituído; 3) não é sujeito a regulamentação. Estas qualidades permitem que uma franquia aumente preços sem perder participação de mercado, garantindo assim um retorno sobre capital investido acima da média.

... e alguma proteção contra inflação
Uma outra característica de uma franquia é o grande valor do "goodwill" econômico (valor intangível do negócio - como as marcas possuídas pela empresa). Isso fornece um grau de proteção contra inflação (porque o investimento em novos equipamentos a preços inflacionados representa uma porcentagem menor do valor total da empresa).

Commodity é vítima do mercado
Em contraste, uma commodity vendida por uma firma é praticamente idêntica aos produtos de seus competidores. No passado petróleo, gás, químicos, soja, minério de ferro e suco de laranja eram commodities. Hoje a lista inclui computadores, automóveis, transporte e serviços bancários. Buffet considera que negócios baseados em commodities, como só podem competir na base de preços, vivem sob a ameaça de quedas sérias em margens. Por isso são "fortes candidatos a problemas com lucros". Só podem faturar alto quando o fornecimento for apertado. E tais períodos normalmente duram pouco.

Franquia vira commodity
Mas uma franquia também não dura para sempre. Seu sucesso atrai outros empresários que começam a produzir substitutos. Uma franquia forte se torna, sucessivamente, uma franquia fraca, um negócio forte e, no fim, até um negócio de commodities. Mas é importante observar que, enquanto uma franquia se mantiver, será suficientemente forte para sobreviver a uma gestão incapaz. Não é o caso de um negócio de commodities.

2. Caraterísticas da Administração

i) A administração é racional?
ii) A administração é franca com as acionistas?
iii) A administração consegue resistir ao imperativo institucional?

i) Racionalidade

A alocação de capital pela lógica
O ato mais importante da administração de uma empresa é alocar o capital disponível. É esta alocação que determina o valor do investimento do acionista. A decisão entre reinvestir lucros na empresa ou devolvé-los ao acionista é, na visão de Buffet, um exercício de lógica e racionalidade.

Ciclo de vida
A decisão depende de onde a empresa se encontra em seu ciclo de vida. No início, enquanto desenvolve produtos e estabelece mercados, uma firma gera prejuízos. Na etapa seguinte, de crescimento acelerado, a empresa tem dificuldade em se financiar. Freqüentemente é obrigada a recorrer a empréstimos ou emitir ações. Aí vem a maturidade, quando a firma começa a gerar mais dinheiro do que precisa para financiar suas operações. Aqui, mesmo que vendas e lucros estejam em declínio, a empresa continua a gerar um superávit de caixa.

Mas lógica nem sempre se praticaÉ nas últimas duas etapas, particularmente na penúltima, que a questão de alocação de recursos torna-se crítica. Se, ao serem reinvestidos na empresa, os fundos excedentes podem gerar um retorno acima da média, pela lógica, todos os lucros deveriam ser reinvestidos. Do outro lado, reinvestir lucros para obter um retorno abaixo do custo médio do capital é claramente irracional. Infelizmente é também comum.

Otimização de rentabilidade
Se uma empresa não oferecer um retorno satisfatório sobre fundos reinvestidos ela tem duas alternativas: adquirir uma outra companhia que oferece uma taxa de crescimento melhor, ou devolver dinheiro para seus acionistas. São as decisões tomadas neste ponto que define, para o Buffet, se a administração é racional ou não.

Porque aplicar em fundo se a empresa dá mais?É interessante enfatizar alguns aspectos da questão de alocação de recursos do ponto da vista do acionista. Se dinheiro reinvestido na empresa gera mais retorno para o acionista (em termos de ganho de capital) que suas outras aplicações (em fundos etc.), é melhor que todo o lucro da firma seja reinvestido, e nada distribuído em forma de dividendo. A firma do Buffet, Berkshire Hathaway, com a concordância dos acionistas, não paga dividendos.

Buyback ou dividendo?
Se não é interessante reinvestir lucros, a firma pode escolher entre duas alternativas para poder devolver dinheiro para os acionistas: pode aumentar o nível do dividendo, ou pode comprar suas próprias ações (um operação de buyback) para cancelamento posterior. A segunda alternativa tem o efeito de aumentar o preço das ações que continuam no mercado (porque o mesmo lucro será distribuído entre menos ações). Também provoca efeitos positivos secundários: manda sinais para o mercado de confiança no futuro do negócio e de consideração para com os interesses dos acionistas.

ii) Franqueza

Apontar sucessos, admitir erros
O Buffet dá muito importância à franqueza da administração de uma empresa. Para ele, uma administração franca é uma que relata a performance financeira da companhia de maneira honesta e completa. Ele admira uma administração que, além de apontar sucessos, admite erros. Ele não respeita administrações que escondem informações atrás das regras de contabilidade. Por exemplo uma empresa pode juntar os resultados de diversos negócios em um só conjunto de números, impossibilitando uma análise de cada um individualmente. Para Buffet os demonstrativos financeiros devem permitir que um analista obtenha respostas a três perguntas. Quanto, aproximadamente, vale a firma? A firma pode cumprir suas obrigações futuras? Qual é o desempenho dos administradores?

iii) O Imperativo Institucional

Automatismo, hiperatividade, puxassaquismo e macaquismo
O imperativo institucional, na opinião de Buffet, se manifesta em três formas: resistência em alterar a direção da empresa, mesmo que haja um naufrágio à vista; a compulsão, devido a uma ânsia de executivos de agirem, de inventar projetos ou aquisições que absorvam os fundos disponíveis; o fato que subordinados rapidamente produzem estudos que apoiam qualquer capricho do líder; e a tendência de companhias imitarem, impensadamente, seus pares, seja em matéria de expansão, aquisições e remuneração de executivos, seja em outras áreas.

"Estou cada vez mais convencido que o método correto em investimento é investir somas relativamente grandes em negócios que se pensa que entende e em cuja administração se tem fé total. É um erro imaginar que se limita o risco quando se distribui fundos entre empresas que pouco conhece e em cuja administração não se tem nenhuma razão particular para ter confiança especial". - Maynard Keynes

"Mesmo com uma margem de segurança agindo a favor do investidor, uma ação individual ainda pode sair mal. De fato, a margem só garante que a chance de o investidor ter lucro é melhor que a chance de perder - ela não significa que perda é impossível. Mas na medida em que o número de ações individuais na carteira, possuindo margens positivas, aumentar, mais certo é que o total dos lucros excederão o total dos prejuízos. A constatação é a base da indústria de seguros." - Benjamin Graham

Diversificação x Concentração revisitada
Como introdução ao terceiro artigo sobre o pensamento do papa atual da escola de investimento em valor ("value investment"), Warren Buffet, relembramos um fato importantíssimo: no campo de investimento, diversificação entre muitas ações, ou concentração entre poucas, não são técnicas opostas. Simplesmente se aplicam a situações diferentes.

Grau de conhecimento é a chave
O mentor de Warren Buffet, Benjamin Graham, recomenda diversificação para um pequeno investidor cujo conhecimento de suas empresas não vai muito além de um conjunto limitado de dados de fácil acesso, tipicamente os demonstrativos financeiros anuais e comentário em jornais e revistas de grande circulação. A técnica de concentração utilizada por Warren Buffet (que citou com aprovação as palavras de Keynes acima), ao contrario, se baseia em seu conhecimento profundo de cada um de seus poucos investimentos.

Curso de investimento
Por que razão, então, este boletim dá tanto atenção a Buffet? Porque o conhecimento de suas técnicas representa um virtual curso de investimento. E mesmo que não se recomende a concentração ao pequeno investidor defensivo, é fundamental entender o conceito - pelo menos para enfatizar a importância da diversificação.

É Hagstrom quem desvenda os mistérios
Nossa exposição é baseada no livro de Robert G Hagstrom Jr, The Warren Buffet Way. Hagstrom agrupa os "princípios" de Buffet em quatro categorias:

1. As características do negócio;
2. As características da administração;
3. Os critérios financeiros;
4. Os critérios de mercado.

No artigo anterior consideramos As características do negócio e As características da administração, neste vamos dar uma olhada em Os critérios financeiros e Os critérios de mercado.

3. Critérios Financeiros

i) Enfoque em retorno sobre patrimônio líquido, não lucro por ação.
ii) Utilização de "lucro do dono" para ter uma idéia melhor do valor gerado.
iii) A procura de empresas com altas margens de lucro.
iv) Para cada dólar de lucro reinvestido, a verificação que a empresa consegue gerar pelo menos um dólar de valor de mercado.

. i) Retorno sobre patrimônio líquido

Avaliação de gerenciamento econômico
Buffet afirma que "O mais importante, na avaliação do gerenciamento econômico de uma administração, é julgar seu sucesso em conseguir uma alta taxa de retorno sobre o capital social empregado (sem alavancagem excessiva, truques contábeis, etc) - e não sua habilidade em produzir ganhos consistentes em lucro por ação".

Resultado em estado puro
Antes de utilizar o retorno sobre o capital social empregado (ou retorno sobre patrimônio líquido) para avaliar uma empresa, Buffet efetua uma série de ajustes. Primeiro, ele utiliza a média dos retornos obtidos ao longo de 5 ou mais anos. Segundo, ele considera o preço de custo (e não de mercado) de títulos negociáveis. Terceiro, ele exclui ganhos e perdas financeiras e itens extraordinários (despesas ou receitas que não vão se repetir). Os ajustes têm como objetivo isolar a parte do resultado obtido que depende unicamente do desempenho da administração da firma.

Antipatia por dívida
A citação do Buffet deixa clara sua aversão por endividamento excessivo. Ele considera que "sem a ajuda de alavancagem (empréstimos), boas decisões, tanto de investimento, quanto no gerenciamento do negócio, resultarão em um desempenho perfeitamente satisfatório". Sua antipatia por dívida vem do risco corrido por companhias altamente alavancadas em épocas de retração econômica.

Comportamento suspeito
Embora ele não sugira quais os níveis de endividamento aceitáveis, a posição do Buffet se resume na afirmação que uma boa empresa deveria ter a capacidade de produzir um bom retorno sem dívida. Em contrapartida, companhias que dependem de endividamento significativo para obter um bom retorno deveriam ser tratadas com suspeição.

ii)"Lucro do dono"

Lucro contábil tem limitações
Elaborar uma projeção do lucro por ação contábil é somente o ponto de partida na determinação do valor econômico de um negócio. Buffet avisa que os resultados apresentados por empresas, cujos ativos possuem um valor grande em comparação com seu lucro, nem sempre refletem o verdadeiro desempenho da firma. Nestes casos, como os efeitos da inflação freqüentemente distorcem os números, o lucro contábil só tem valor quando se aproximar do fluxo de caixa da companhia.

Esqueceram dos investimentos!
Mas mesmo o fluxo de caixa não é sempre o ideal. De acordo com Buffet, embora adequado para avaliar negócios envolvendo grandes investimentos iniciais e despesas menores mais tarde (como imóveis e campos de petróleo), não é apropriado para empresas manufatureiras cuja necessidade de investimento é contínua. Normalmente, o fluxo de caixa de uma firma é definido como lucro líquido + depreciação + exaustão + amortização + outros descontos não envolvendo dinheiro. Quer dizer, um item importante - investimentos - é excluído do cálculo.

Investimentos = depreciação
Buffet calcula que o valor dos investimentos de 95% das empresas americanas é aproximadamente equivalente a seu custo de depreciação. Isso significa que um valor substancial é desconsiderado. Em vez de fluxo de caixa, Buffet utiliza o que ele chama "o lucro do dono" ("owner earnings"). O "lucro do dono" é lucro líquido + depreciação + exaustão + amortização - investimentos - aumento no capital de giro.

iii) Margens de lucro

Treinar a respiração
"O verdadeiro bom administrador não acorda de manhã é diz 'Hoje vou cortar custos', da mesma maneira que ele não acorda e decide treinar a respiração". Conforme Buffet, os administradores de operações de alto custo sempre encontram um maneira de carregar ainda mais a estrutura de custos - enquanto administradores de operações de baixo custo sempre conseguem uma maneira de cortar despesas.

iv) O Teste de Um Dólar

Criar valor com o dinheiro do acionista
Este teste, desenhado por Buffet, procura avaliar até que ponto uma administração tem conseguido criar valor para o acionista. O teste utiliza a observação que, no longo prazo, o valor de uma empresa em bolsa tende a acompanhar o valor do negócio. No caso das empresas procuradas por Buffet, o aumento em seu valor de mercado, em um determinado período, deve ser pelo menos igual ao valor do lucro reinvestido.

4. Critérios de Mercado

i) Determina o valor intrínseco.
ii) Compra a um preço atraente.

i) Determina o valor intrínseco

Há valores e valores
De acordo com o livro de Hagstrom, tradicionalmente há três maneiras de estabelecer o valor de uma empresa. O valor de liquidação é o estimado valor obtido se todos os ativos forem vendidos e as obrigações saldadas. O valor do mercado, no caso de uma empresa listada, é o valor imputado pelo preço de negociação em bolsa. E o valor como uma unidade operacional é o estimado valor atual dos fluxos de caixa que o dono espera receber da empresa no futuro.

Exercícios matemáticos
Buffet considera o último procedimento como o melhor. Embora uma exposição do Método de Fluxo de Caixa Descontado seja fora do escopo do artigo atual, o cálculo em si é um simples exercício matemático. Mais difícil é estimar os fluxos de caixa futuros, e escolher o fator de desconto apropriado.

Os fluxos de Bill Gates
Se Buffet não consegue projetar os fluxos de caixa futuros de uma empresa com um grau razoável de segurança ele a rejeita como investimento. Ele admite, por exemplo, que não tem a menor idéia como projetar os fluxos de caixa da Microsoft. No entanto, se o negócio é "simples e compreensível" e tem "uma história de operações consistente", ele consegue determinar os fluxos com bastante precisão.

Ignorância é risco
Para o fator de desconto, o Buffet adota a taxa oferecida pelo bônus de longo prazo emitido pelo tesouro americano. Como este bônus é garantido pelo governo dos Estados Unidos, é considerado virtualmente sem risco. Críticos argumentam que deve-se adicionar um prêmio de risco. Buffet responde que sua técnica evita risco financeiro porque rejeita empresas altamente endividadas, e evita risco do negócio porque só considera firmas cujos resultados são consistentes e previsíveis. Como diz: "Coloco muito ênfase em segurança. Se se fizer isso, toda a idéia de um fator de risco faz pouco sentido. O risco aparece quando não se sabe o que se está fazendo".

ii) Compra a um preço atraente

Margem de segurança - seu melhor amigo
Foi Benjamin Graham quem ensinou a Buffet a importância de só comprar uma ação se, entre seu preço e seu valor intrínseco, existir uma significativa margem de segurança. Para Buffet, esta margem de segurança tem duas funções: protege contra perda em casos onde o valor intrínseco foi subestimado; e, se identificar corretamente uma empresa com um retorno acima da média, fornece uma oportunidade para ganhos extraordinários.

9 comentários:

  1. Me preocupa o ciclo de vida das empresas, como lidar com isso e os riscos embutidos.

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    1. Eu prefiro a simplicidade, só espero que as empresas que invisto durem mais tempo que eu. rs

      Abraço

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  2. Belo artigo.

    Investir em empresas de tecnologia, como foi citada a Microsoft (que despediu15 mil essa semana) é algo mesmo de risco. Por exemplo, se te dessem 500 mil pra investir na AmBev ou no Facebook em qual vc iria? Eu iria na AmBev, apesar de que provavelmente os dividendos de curto prazo do Facebook sejam maiores. Não sabemos quanto tempo o Facebook vai durar. Já cerveja ninguem vai parar de beber.

    Abs

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    1. Tem razão, tb não gosto de empresas de tecnologia, as atualizações são muito dinâmicas e o gasto em pesquisas é absurdo, é um mercado que cobra engole cobra, vide a Nokia recentemente. Apesar de gostar do estilo camaleão de se adaptar do Mark Zuckerberg, não compraria ações do Facebook.

      Abraço

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    2. O tio WB investe na IBM. Software não acho tão ruim assim. Ruim mesmo é HARDWARE. TI é uma coisa fundamental atualmente e deve continuar sendo.

      No Brasil, gosto da TOTS3 (IBM tupiniquim), que por sinal, está na minha carteira.

      Abraços.

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    3. Eu tinha LINX3 comprada no lançamento por 27 conto e entrei na besteira de vender por achar que tinha subido muito, putz! Até hoje eu me culpo, e o pior é que não sou de vender nada, não olho cotação, só compro todo mês e acompanho os balanços, não sei porque fiz isso, que merda!
      Hoje eu não compraria, mas vender foi um erro crasso da minha parte.

      Abraço

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  3. Venho convidar você e seus leitores para aumentar suas chances de sucesso no mercado financeiro e saber mais sobre Investimentos!
    http://www.semanadoinvestidor.com/

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